“Todas (as mulheres) são loucas, filho. Você só precisa encontrar a louca certa para você.”
Inicio esse texto por uma citação do avô de um cara que considero um grande amigo. Acho que ele exemplifica, apesar da simplicidade da frase, o quão complexo é um relacionamento. Encontrar a pessoa certa que entenda sua loucura é, hoje, o grande desafio desse milênio. Digo isso porque hoje vivemos no que eu chamo de uma pandemia de síndrome do centro do mundo.
As pessoas, auxiliadas pela facilidade da internet e dispositivos móveis como smartphone, têm acesso remoto a redes sociais e, dentro dessas redes, criam um mundo completamente a favor de tudo aquilo que acham certo e acreditam. Bloqueiam qualquer “interferência” ou um discurso que é diferente daquilo que acreditam. Não debatem, não procuram entender o porquê da outra pessoa ter um ponto de vista diferente dela. O dedo vai rapidamente na tela e bloqueia ou “desamiga” a pessoa. Pronto! A opinião diferente, o problema alheio e a resolução de conflitos não fazem parte do mundo das pessoas portadoras dessa “síndrome do centro do mundo”.
Se isso for atrelado a alguma ideologia política então, é o cenário perfeito pra acirrar ainda mais o ódio de classes presente na atual política brasileira mas esse não é o foco desse texto. O foco hoje é entender como isso afeta os relacionamentos atuais e como torna as pessoas descartáveis e sem conteúdo efetivo apesar da extrema facilidade de acesso a informação de qualidade. Um relacionamento de verdade é mais do que sair, se divertir, viajar, ir em festas, postar fotos cheias de frases prontas carinhosas em redes sociais para mostrar para os “amigos”. Relacionamento é entender o mau humor alheio, lidar com problemas que você não teria se não estivesse com a pessoa, aguentar mau humor, ser o primeiro a ouvir um desabafo ou aguentar uma explosão de raiva sem ter culpa nenhuma e, mesmo assim, ainda estar disposto a dividir momentos com a pessoa.
Relacionamento de verdade não é ser feliz o tempo todo. Não é como a linha do tempo do seu instashit onde a felicidade e intensidade artificial cria um ambiente em que qualquer um parece viver uma vida de realização de sonhos, infinitas conquistas e superações e relacionamentos perfeitos em que um nasceu para o outro e se amarão para sempre. Relacionamento de verdade implica em aceitar diferenças (grandes diferenças) ideológicas e da forma de lidar com problemas cotidianos. É pagar contas, enfrentar transito, filas, mau humor da pessoa e lidar com as suas loucuras. Sim.. somos todos loucos.
Me preocupa esse atual cenário pois, do jeito que está a maneira com que as pessoas interagem socialmente (através de redes virtuais de conteúdo selecionado pelo usuário), perderam a habilidade de lidar com as diferenças e lidar com o cotidiano. Isso cria relacionamentos descartáveis. Pessoas fúteis interessadas em exibir o namorado(a) como um troféu. Troféu pra familia, pros amigos e, principalmente, pra causar inveja àqueles que a pessoa não gosta.
Sim, criou-se uma geração de idólatras. E o ídolo da vez é a reputação. É mais importante quem tem mais seguidor, quem tem uma mídia maior ou quem atinge mais pessoas. Isso transforma uma pessoa comum em alguém importante. E importância gera status social e status social precisa cumprir obrigações sociais. Dentro das obrigações sociais está um relacionamento “perfeito”. É isso: nesse novo modelo de relações sociais, o relacionamento cumpre um papel dentro da construção do status. Estar sozinho é visto como algo infeliz e incompleto. Uma falha do status social.
Penso que hoje, dentro desse fenômeno que está dominando a maioria das pessoas, não me vejo em um relacionamento de novo. Sou uma pessoa de difícil convivência, que mantém uma carreira de atleta de alta performance e lida diariamente com superação, dor e sacrifícios pessoais e financeiros para sustentar isso. Enfim, um estilo de vida ainda menos comum que a maioria. Me pergunto, as vezes, quem aceitaria e estaria disposta a dividir isso tudo. Acho que ninguém. Discutir problemas e soluções então? Só em sonho.
Penso que hoje, dentro desse fenômeno que está dominando a maioria das pessoas, não me vejo em um relacionamento de novo. Sou uma pessoa de difícil convivência, que mantém uma carreira de atleta de alta performance e lida diariamente com superação, dor e sacrifícios pessoais e financeiros para sustentar isso. Enfim, um estilo de vida ainda menos comum que a maioria. Me pergunto, as vezes, quem aceitaria e estaria disposta a dividir isso tudo. Acho que ninguém. Discutir problemas e soluções então? Só em sonho.
Já pensou que louco seria uma pessoa que te escutasse e você a escutasse, dividisse responsabilidades, apoiasse seu projeto de vida e tivesse um projeto de vida próprio pra você apoiar, lidasse junto com você com burocracias, estabelecesse metas e prioridades juntos, ficasse de mau humor mas te aguentasse no seu mau humor, que tenha problemas pra resolver mas que entenda e apoie a resolução dos seus problemas, que risse junto, dividisse o momento de sair com o momento de ficar em casa, saísse sem a necessidade de levar você a tiracolo pra exibir como um troféu para os outros e nem pra cumprir o maldito status social… Enfim… alguém que fizesse você esquecer a necessidade de postar em rede social uma felicidade que não existe para obter seguidores que não acrescentam nada na sua vida real. Será que existe uma pessoa tão louca assim?
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