terça-feira, 7 de julho de 2020

Entrevista com Hugo Quinteiro


Achei esta entrevista que dei em 2015 para uma empresa que até já encerrou as atividades (e o site onde tinha a entrevista). Vale a leitura pois o pensamento ainda é atual


Entrevista com Hugo Quinteiro



Q - Hugo, conte um pouco sobre você: onde e quando você nasceu, como é sua família e como foi sua infância. Que tipo de atividade você mais curtia quando pequeno?
Eu nasci dia 14 de dezembro de 1982 com 52cm e 4.360g em São Paulo num final de primavera escaldante seguido por um verão mais quente ainda (conforme me contaram). Sou filho de uma mineira descendente de espanhóis com um português o que me faz 100% ibérico. Sou filho único e o conceito de família sempre foi algo bem restrito na minha vida: basicamente faziam parte do meu convívio meus pais e avós além de uma “tia” e seu filho (as aspas é porque ela é prima da minha mãe).
O fato deu ser muito grande e pesado desde que nasci obrigou a eu aprender logo cedo a ter que andar e não poder contar com colo quando novo. Minha mãe trabalhava em uma creche e eu a acompanhava e lembro de estar com sono voltando pra casa e minha mãe dizer: você precisa andar porque eu não tenho força pra te carregar no colo. Mas ela também me dava preciosos estímulos: sempre me levava a parquinhos e me deixava escalar, subir em coisas, saltar, brincar etc. Lembro de uma vez que fomos com uns primos no parquinho e eles eram lerdos, desajeitados (um até foi “atropelado” por uma balança) e eu olhava e pensava: que crianças estranhas.
Minha casa também tinha um grande quintal (era grande pra mim na época) e eu sempre brincava sozinho, plantava coisas num espaço com terra, olhava estrelas, brincava com os vaga-lumes, arrumava alguma galinha ou galo de estimação e brincava com o cachorro que nos acompanhou até eu fazer 17 anos. Na infância (até os cinco anos mais ou menos), eu brincava muito sozinho por dois motivos: o primeiro era porque eu era filho único, o segundo é porque eu era MUITO mais forte que crianças da minha idade e isso sempre causava acidentes em que a outra criança trombava em mim, por exemplo, caia no chão e se machucava inteira e eu ficava em pé, olhando sem entender. Isso me fez ter mais contato com crianças mais velhas, fortes e que “aguentavam” brincar comigo. Também brinquei muito na rua como os outros meninos por volta dos sete anos e isso durou até os nove quando comecei a fazer judô e isso me ensinou um conceito de disciplina e responsabilidade com o esporte onde eu, voluntariamente, abri mão de brincar com outros meninos e passei a treinar. Sobre atividade preferida, acho que não tinha uma pois gostava de fazer e inventar um monte de coisas. Entre elas, aprender xadrez aos cinco anos depois de encher as paciências do meu pai pedindo pra ele me ensinar.

Q- Como foi sua Educação Física escolar? Se você pudesse hoje conversar com seus professores daquele tempo, o que você diria?
Foi medíocre. Porém, creio que a atividade  que o profissional de educação física pode fazer hoje dentro de uma escola e pelos recursos que ele conta, eu diria que recebi o mínimo dos estímulos necessários (o que já é raro hoje alguém receber). Eu tenho alguns dos meus professores de colégio no facebook e acho que eles até lerão isso então, digo a eles: vocês são heróis desconhecidos. Infelizmente sequer deixavam vocês dar uma nota numérica pra gente (utilizavam aprovado em boa parte do ensino fundamental) e um sistema de avaliação minimamente justo. E vocês, com uma bola, uma rede e uma quadra do tamanho de um apartamento, conseguiam dar vivência motora as crianças. Parabéns!

Q - Antes da faculdade, você praticou algum esporte? Como foi?
Eu fui atleta de judô dos 9 anos de idade até os 15 de maneira ininterrupta. Depois parei um ano, voltei outro ano, parei de novo, só voltei aos 22 anos e larguei de vez quando entrei na faculdade. Foi minha primeira experiência competitiva e de sonhar em seguir em frente no esporte e me tornar um atleta de elite. Porém, era um momento de grandes dificuldades financeiras na família e não tínhamos condições de viajar pra competir ou até mesmo garantir os gastos de uma criança em formação com uma carreira esportiva. Porém, os ensinamentos de disciplina, respeito ao adversário, lidar com um ambiente competitivo, treinar de maneira séria são coisas que ficaram marcadas na minha vida pra sempre.

Q - Como foi a decisão de cursar Educação Física?
Ela teve a ver com dois planos: profissional e pessoal
Profissional porque eu não me sentia feliz sendo corretor de seguros (acreditem, sou formado em um curso técnico e tenho carteirinha de corretor). Não imaginava minha vida dentro de um escritório lidando com papel e deixando o sedentarismo tomar conta da minha vida. Então esse era um ponto que eu tinha vontade de mudar e não me sentia feliz.
Pessoal porque eu acabei voltando para o judô (entendam voltar, pra mim, significa voltar a treinar E competir). Com tantos anos sedentários, percebi que além de uma péssima resistência anaeróbia eu tinha me tornado algo que nunca fui comparado a pessoas da mesma idade e peso: fraco. Por isso, resolvi procurar a musculação e encontrei uma academia tradicional perto de casa onde acabei treinando por oito anos. Ter conhecido o dono me fez acreditar que era possível mudar de área e fazer algo que eu realmente gostava: cursar educação física e admitir isso a mim mesmo (comecei o curso tarde, aos 25 anos).

Q - Carreira acadêmica: conte sobre sua experiência com o mestrado e suas conclusões sobre a carreira.
         Eu decidi fazer mestrado em 2008 quando conheci o Prof. Ms. Leandro Afonso na disciplina de fisiologia do exercício. Era um momento de franca expansão do ensino superior no Brasil e a possibilidade de criar uma pergunta científica, selecionar métodos para respondê-la e, com isso, aumentar o próprio conhecimento e de toda a comunidade era algo que me fascinava como o menino que era na infância brincando no quintal, criando coisas e desmontando os aparelhos eletrônicos que meus pais me davam antes de jogar fora. Com isso, decidi não parar de estudar até completar o mestrado. A ideia original seria não parar até o doutorado, mas a atual política do Brasil transforma o professor doutor num “elefante branco”.
        No mestrado, aprendi o que é fazer ciência como carreira profissional. Isso muda o conceito de uma ciência romântica movida a ideias realmente originais e que são voltadas a mudar pra melhor a vida das pessoas. A ciência tem seu sistema próprio de organização e esse sistema obriga o pesquisador a ser um burocrata que lida com papéis, bolsas, financiamentos, agências de fomentos de pesquisa, prazos e com uma brutal pressão por publicações. Ou seja, a ciência existe para resolver os problemas dela e dos seus envolvidos, não os problemas do mundo.
Minhas conclusões atuais sobre a ciência são: num pais subdesenvolvido com graves problemas políticos e administrativos, não se cria algo realmente relevante a ponto de mudar pra melhor a vida das pessoas que sofrem com doenças crônicas não-transmissiveis (que foi minha área de pesquisa). O que se faz em ciência no Brasil hoje sobre esse tema é gerenciar o sofrimento do paciente para prolongar sua vida doente (o foco não está na cura). E, pelo que vi, mundialmente também não está.




Q - "Construindo a ponte entre ciência e prática": por que é tão difícil no treinamento esportivo?
          Porque as perguntas realmente pertinentes que deveriam ser levadas a um laboratório e estudada não são. Isso acontece por uma série de motivos e um deles é a falta de dinheiro. Um outro, creio que até mais importante, é a falta de duas carreiras no país: treinador desportivo e cientista do esporte. O primeiro, existe basicamente dentro do futebol e de forma caricata: ex-atleta, semi-analfabeto, sem formação científica que reproduz um modelo de treino baseado naquilo que viveu (que foi baseado naquilo que outra pessoa viveu, ou seja, 100% empírico). No outro lado, a falta de centros olímpicos de detecção e seleção de talentos não gera a demanda pela formação de cientistas do esporte. Sem demanda, não tem carreira porque ninguém estuda um doutorado numa área que não existe aplicação só pra ser diferente. Doutores precisam pagar contas como qualquer pessoa e, no fim, o mercado não gerando demanda não gera dinheiro envolvido também. Um terceiro é a falta de equipamentos para estudar fenômenos. Um exemplo disso é que hoje, quem conseguir responder como ocorre o mecanismo molecular de uma supercompensação ou um overtraining ganha certamente o Nobel. Só que não existem ferramentas para mensurar variáveis ou expor voluntários de maneira segura ao fenômeno a ser estudado. Um quarto motivo: o profissional que faz ciência não tem experiência prática no treinamento e, muitas vezes, nem humildade para aprender ou perguntar o que é relevante para um treinador saber. Como disse acima, ciência se importa com os problemas dela, não com os do mundo, lembram?

Q - Qual sua opinião sobre a regulamentação profissional? Considerando que há países onde não há requisito legal algum e no Brasil o requisito é rigoroso e regulamentado, o que é melhor para a sociedade?
           As vezes penso que essa pergunta deveria vir acompanhada de uma pergunta prévia bem respondida: qual o papel da educação física na sociedade? Hoje, creio que o maior problema da educação física é a falta de identidade. Na escola, somos a disciplina “a parte” que não tem prova, não existe reprovação nem obrigatoriedade de frequência e aula teórica é um sacrilégio. Na área da saúde, carregamos o estereótipo de ignorantes que adoram fazer bagunça e tem a obrigação de deixar os alunos felizes ao final da aula. Enfim, não temos respeito profissional nem identidade.
Conhecendo o default das autarquias brasileiras, o mais barato e econômico para todos seria não existir nenhum conselho profissional. Porém, a falta de aplicação de leis e o costume da população em ter um estado-babá que “cuida” da população obriga, pelo menos a médio prazo, a existência de um conselho que fiscalize minimamente a atuação profissional.
              Resumindo minha opinião: o melhor para sociedade deveria ser a não regulamentação porém com duríssimas leis que efetivamente punam o profissional que cometesse uma irregularidade. Isso geraria um menor gasto publico-privado e uma busca de conhecimento pelo profissional que resolvesse atuar na profissão. Porém, com um mercado que não sabe sequer o que é qualidade em uma profissão sem identidade como a educação física, somado a um judiciário ineficiente e um estado que não pune, faz com que a presença de um conselho que fiscalize tudo isso seja um mal necessário que onera todo o sistema mas gera alguma regulamentação.


Q - Como você se define como treinador? O que é ser treinador para você?
              Ser treinador pra mim é como um taxista: ele conhece caminhos, conhece atalhos e sabe levar o passageiro onde ele precisa no menor tempo possível. Pra isso, você deve saber dirigir (habilitação profissional), ter noções de como é a mecânica do carro e conhecer o caminho (aliar conhecimento científico com vivência), conhecer atalhos (feeling pessoal e improvisação) e, principalmente, entender que o passageiro precisa chegar no prazo (periodização).  Por isso, me defino como um treinador em início de carreira porque ainda estou num processo de criação do feeling pessoal, da maneira de improvisar e de adquirir uma longa vivência no esporte.

Q - Musculação: o que é isso para você? Se você tivesse que transformar a as salas de musculação no seu ideal, como faria?
          Eu escrevi um texto sobre o que é a sala de musculação pra mim comparando com a matrix (http://bases-fisiologicas.blogspot.com.br/2015/03/matrix.html). A musculação tradicional vende hoje o suprassumo da alienação corporal em forma de atividade física onde a alienação corporal do aluno por movimentos perdidos ao longo de um dia inteiro sentado num escritório lidando com máquinas é incentivado na academia onde ele chega e tem mais máquinas pra empurrar. Ao meu ver, isso é literalmente a revolução das máquinas acontecendo e as pessoas não estão se dando conta.
Se eu tivesse que transformar uma sala de musculação, eu começaria por onde eu acredito que toda a sociedade deva se transformar: através da EDUCAÇÃO. Educaria e investiria no profissional que atuará nessa sala. Com conhecimento, ele ensina o aluno e se vê livre das máquinas pois tem recursos intelectuais para lidar com o movimento livre. Isso acabaria com os “não pode agachar”, “supino com pés pra cima pra não lesionar a lombar” e “terra é perigoso”. Isso acontece porque os profissionais têm MEDO do desconhecido porque nunca viveram isso. Não viveram porque não tiveram na sua formação (não canso de dizer que eu tive UMA aula prática e uma teórica de musculação na graduação inteira). Muitos profissionais atuam no mercado apenas com essa informação e mais algumas horinhas lendo literatura não qualificada (porque também não aprendeu a buscar literatura científica de qualidade).

Q - Powerlifting: como entrou e onde ele fica na sua vida?
             O powerlifting entrou na minha vida sem querer no meio do mestrado. Já gostava de musculação, conheci alguns atletas e resolvi participar de um campeonato dois meses antes de defender meu mestrado. A surpresa de ter vencido e a possibilidade de voltar a ser um atleta de elite (coisa que abri mão no judô no passado) me reacendeu a chama pelo esporte.
Responder onde ele fica na minha vida é fácil: esse esporte não fez concessões a mim. Ele me deu TUDO que eu desejei até agora por isso eu faço tudo que for necessário pra ele. Desde treinar o que for preciso treinar, arcar com todos os custos de viagem, alimentação e outros custos da minha vida de atleta até organizar campeonatos exclusivamente para dar possibilidade de outros atletas viverem o que eu vivo.




Q - Powerlifting é um esporte "chato" para muitos que assistem sem entender. Você acha que deve haver um esforço de popularização?
Na verdade, até eu acho chato de assistir (risos). A emoção desse esporte é muito individual: cada atleta caminha até a barra carregada por um peso escolhido por ele para executar um único movimento que terá uma relação de transcendência e experiência totalmente única mas, pra quem está de fora, é só um cara agachando seguido de outro cara agachando e depois a mesma coisa no supino e depois no terra. Admito que, em todos os campeonatos online que assisti, acabei dormindo em algum momento. Os presenciais têm um pouco mais de graça porque você aprende muito: profundidade de agachamento, formas de julgar, estratégias de levantador e o papel do treinador como diferencial para vitória (ou derrota) de um atleta. Porém, tudo isso são detalhes que o grande público não se interessa.
Não creio que deva haver um espaço para popularização do esporte pois isso pode modificar muito as regras e características de um esporte como o powerlifting. Um exemplo de popularização que modificou radicalmente um esporte foi o que fizeram com o vôlei: para tornar mais atrativo, retiraram a vantagem, aumentaram o número de pontos e, com isso, até as exigências de capacidade física e composição corporal dos atletas mudaram. E o pior: o dinheiro a mais que o esporte ganhou com sua popularização não foi revertida exclusivamente para os atletas e comissão técnica. Recentes escândalos de desvio de verba feita por dirigentes mostram que, infelizmente, mais dinheiro é igual a mais roubo.

Q-  Se não é para ser um "esporte de massas", para que serve o powerlifting? Tem que servir para alguma coisa?
Serve par entender um dos fenômenos que mais intriga e fascina o ser humano ao longo de sua história: a expressão máxima de força. Esse esporte acaba criando modelos de periodização que, se corretamente adaptados, servem para preparação desportiva de qualquer esporte pois ajuda a ter ganhos importantes de força e essa variável tem se mostrado cada vez mais importante na diminuição de lesão e de aumento da capacidade de trabalho dos atletas. Nos últimos 30 anos de pesquisa com esportes, a preparação física se mostrou o grande diferencial de performance de qualquer atleta e essa evolução veio acompanhada de uma diminuição da importância do treinamento aeróbio e de uma ascensão do treinamento resistido e do ganho de força. Portanto, entender a máxima expressão dessa variável nos ajudará a criar soluções para diversos enigmas esportivos. Se fosse um laboratório de pesquisa, powerlifters seriam modelos experimentais. E modelos experimentais são o alicerce da pesquisa básica no mundo.

Q - Quais são as suas referências no treinamento físico?
Começarei com dois dos principais: Swede Burns e Louie Simmons. Faço um parênteses a toda a escola russa de treinamento que transformou o amadorismo e casualidade em ciência e uma máquina de resultados e conquistas olímpicas. Citarei Yuri Verkhoshansky apenas por ser um dos meus preferidos dessa magnífica escola.




Q – O que é ser atleta para você? O que você diria para quem quer se tornar um?
Ser atleta significa fazer uma escolha: nessa escolha, você deve ponderar se tudo que você abrirá mão vai valer o sacrifício. A medalha é apenas um pedaço de metal com uma fita pra facilitar seu transporte. O que a pessoa tem que pensar é se o significado daquilo vai valer a pena pra você. Significa pra você ser campeão do mundo? Significa pra você quebrar um recorde mundial? Se a resposta pra essas perguntas forem sim, se pergunte: Vale a pena abrir mão de uma “vida social”? Vale a pena conviver todo dia com dores que a maioria das pessoas vai ao hospital e faltam ao trabalho? Vale a pena passar centenas de horas por ano dentro de uma sala treinando, com pouco apoio, somente para se preparar pra um campeonato? Se tudo isso fizer sentido pra você, vá em frente.
Como conselho pra um pretendente a se tornar atleta eu diria:
1- Tenha um treinador e CONFIE nele. Não se pode dizer que o trabalho de alguém é bom ou ruim se você não se permitiu ser treinado por um ano competitivo inteiro. E, por favor, SIGA EXATAMENTE o que ele disser para você fazer.
2- Confie na sua periodização. Siga RIGOROSAMENTE sua planilha de treino. Não faça UM ABDOMINAL sequer que não esteja prescrito para você naquela sessão de treino (não importa se o treino ficaria mais dividido com esse abdominal a mais).
3- Por mais que você seja um atleta de alto rendimento e uma exceção genética, entenda que vitórias e derrotas são circunstanciais. Acordar num dia bom pode fazer toda diferença na sua performance porque ninguém sabe como os mecanismos de inibição e supercompensação funcionam.
4- Anote seu treino e enxergue como cada sessão é como se fosse um tijolo que construirá o prédio da sua vitória. Cada repetição importa e é uma oportunidade de corrigir detalhes importantes e ganhar experiência. Aproveite e se divirta com processo.

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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

A Questão do Atleta na Política Nacional Brasileira - Dia da Independência




Esse é um post polêmico. Escrito em um momento conturbado. Aos atletas que me seguem, peço que leiam com a calma e reflexão necessárias para o momento e entendam a razão do meu discurso e pensamento.

Para o público em geral, peço que leiam e entendam que essa é uma visão crítica de quem está dentro do universo de atletas mas tenta analisar pela ótica macro de um país em crise. E que temos, como cidadãos, a possibilidade e o poder de fazer a diferença no orçamento dos atletas (esse mesmo que vos escreve nunca nega uma ajuda financeira para fechar as contas e poder competir sem usar um centavo de dinheiro público e arcando com todas as taxas do custo-Brasil). Aí vai:

Eu não creio que o país deva bancar um atleta. Penso que, no contexto de prioridades que vivemos (segurança, saúde e educação, etc), o país deva ter prioridades maiores do que financiar um atleta para uma competição (mesmo essa competição sendo uma olimpíada). Não que o país não deva fazer em um momento menos conturbado. Mas cabe, no momento, prioridade de recursos.

Acredito que é dever do atleta transmitir o objeto de "trabalho" dele a sociedade e mostrar sua "arte" como forma de relevância social e ser REMUNERADO por isso. Aí, sim, cabe ao governo um papel facilitador deste processo. Exemplos:

1- Visitas de escolas a centros de treinamento para apresentação do local e workshop dos atletas mostrando a modalidade para as crianças (orçamento do ministério da EDUCAÇÃO).

2- Eventos a profissionais da área de ciência dos esporte/treinamento de avaliações clinicas e testes que contem como carga horária em faculdade e programas de mestrado/doutorado (orçamento do ministério de CIÊNCIA E TECNOLOGIA).

3- Intercâmbio de atletas e treinadores de outros países para discussão, aprendizado e construção de conhecimento (CIÊNCIA E TECNOLOGIA).

4- Centro de treinamentos dentro de universidades públicas para fomento de pesquisa nas universidades (o mesmo material de treino sendo utilizado em pesquisa). (CIÊNCIA E TECNOLOGIA).

5- Eventos que mostrem a origem de um esporte ligado a imigração de uma população específica (exemplo: Judô e Japão) com a participação de atletas para demonstrações, depoimentos e construção da mistura da cultura desses esportes com a construção e transformação da cultura nacional (MINISTÉRIO DA CULTURA)

6- Isenção de impostos e taxas para competir (passagens e hotel), para locar ou comprar um espaço de treinamento e também para aquisição de equipamentos inerentes a prática daquele esporte (acredite, leitor... isso dá uma ENORME diferença orçamentária).

Aí, deixamos os atletas não dependentes da sociedade como meros "fardos financeiros" e, sim, com uma FUNÇÃO SOCIAL relevante. Aos que quiserem (e puderem) ajudar, farão como fazem por aqui: ajudas individuais. Quem quer e pode, ajuda e contribui com valores dentro das suas possibilidades. Mas, no momento, acho injusto onerar uma sociedade inteira para pagar a conta dos atletas. Temos outras prioridades.

Pensem nessas possibilidades e, uma vez postado, fiquem tranquilos que o direito ao debate de idéias é garantido nos comentários da minha página (desde que mantida as regras da política de não ofensa ou discurso de ódio).


Um abraço,


Hugo Quinteiro

#DiaDaIndependência

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sábado, 28 de julho de 2018

Resenhas de produtos que já testei


Por Hugo Quinteiro

Neste post, farei uma série de resenhas de produtos que já utilizei e vou atualizando ele conforme for colocando novos produtos. Fiquem ligados:




Hoje chegou em casa a faixa da Powerlifting Brasil (um projeto muito legal do meu amigo Rafa Crestani). Porém, amigos, amigos, negócios à parte e eu comprei a faixa para ter liberdade de escrever o que penso sobre ela de forma pública e construtiva para os que me acompanham e a empresa poder ter uma opinião sincera de um consumidor. Peguei o modelo de um metro pois gosto de faixas mais longas. Vamos lá:

Primeira impressão muito boa da faixa: material que ainda não tinha visto em faixas nacionais. Com uma boa elasticidade e sem aparentar que vai deformar nos primeiros meses de uso como a maioria dos produtos nacionais que experimentei até hoje.

Um bom "grip" de contato com a pele. Rígida mas não ao extremo. Colocaria ela como um bom meio termo entre a Iron z da Inzer (vermelha e preta) e a Signature Gold da Titan (preta, vermelha e amarela) - dois modelos que já tive e uso/usei.

Também veio (assim como os modelos americanos) com as duas alças de polegar para o mesmo lado (reforçando que esse elastiquinho é mais enfeite do que algo funcional quando falamos em faixa de punho para powerlifting). De ponto "negativo" (e as aspas são porque isso é apenas pessoal e não influenciou em nada), a faixa é 0,5cm mais estreita que os modelos da Inzer e Titan citados acima. Porém, sinceramente, não senti nenhuma perda de capacidade de imobilização por causa disso. Em mãos menores (mulheres) creio até ser uma vantagem na hora de colocar pois permite um melhor encaixe na mão que está puxando e um posicionamento mais preciso no punho.
Conclusões gerais: 8,5/10. Melhor faixa nacional que já usei e adequada desde iniciantes até mais avançados. Creio que não seria uma faixa tão boa para um atleta equipado masculino acima de 250kg de carga mas aí a brincadeira é outra mesmo.

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Tive a oportunidade de testar uma sapatilha bem conhecida no mundo do powerlifting: Adidas Powerlift 2.0.
A primeira impressão foi muito boa pois se mostrou de uma aparência robusta, resistente e, esteticamente, bem bonita (confesso que gosto muito das três listras e como eles conseguem colocar elas em todos os modelos de uma forma elegante e facilmente reconhecível a qualquer distância).
Porém, beleza não põe a mesa, certo? Importante saber se essa beleza estética é capaz de aguentar peso e cumprir o que promete em termos de estabilidade, conforto e rigidez do salto. Assim que coloquei no pé, já deu pra sentir que é uma sapatilha diferenciada pois “abraça” muito bem o pé e passa a confiança e segurança de que não vai soltar fácil e nem que seu pé vai “nadar” dentro dela. Senti tudo justinho e movimentos bem precisos.
Pisando no chão e sem peso, ela me transmitiu bastante segurança e rigidez no salto. Porém, só se sabe como ela se comporta com peso carregando peso, né? Coloquei 300kg na barra e fiz uma caminhada simulando agachamento mais uma sustentação e a sapatilha mostrou a que veio: não senti nenhum desconforto e nenhuma instabilidade. O salto era realmente rígido e a sensação foi estar pisando em madeira.
Apontaria um ponto negativo para pessoas que gostam de saltos mais altos (como eu): o Adipower (ainda vou falar dele aqui) tem um salto mais alto que me agrada mais. Porém, pra quem não se adapta com saltos tão altos, é uma excelente alternativa e o Adidas Powerlift 2.0 pode se tornar um companheiro de treino por anos. Conclusões gerais: 9/10. Para quem precisa/gosta de salto médio para agachar, uma das melhores escolhas do mercado.


   
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Tive a oportunidade de testar uma sapatilha bem conhecida no mundo do levantamento de peso em geral: Adidas Adipower Weightlifting.
A primeira impressão foi muito boa pois se mostrou de uma aparência robusta, resistente e, esteticamente, bem bonita (confesso que gosto muito das três listras e como eles conseguem colocar elas em todos os modelos de uma forma elegante e facilmente reconhecível a qualquer distância).
Porém, beleza não põe a mesa, certo? Importante saber se essa beleza estética é capaz de aguentar peso e cumprir o que promete em termos de estabilidade, conforto e rigidez do salto. Assim que coloquei no pé, já deu pra sentir que é uma sapatilha diferenciada pois “abraça” muito bem o pé e passa a confiança e segurança de que não vai soltar fácil e nem que seu pé vai “nadar” dentro dela. Senti tudo justinho e movimentos bem precisos. Pisando no chão e sem peso, ela me transmitiu bastante segurança e rigidez no salto. Porém, só se sabe como ela se comporta com peso carregando peso, né? Usei ela em vários treinos, agachei com cargas próximas aos 300kg e sustentei mais de 400kg em algumas oportunidades e não senti nenhum desconforto e nenhuma instabilidade. O salto era realmente rígido e a sensação foi estar pisando em madeira.
Apontaria um ponto negativo para pessoas que gostam de saltos mais baixos: o Adidas Powerlift 2.0 tem um salto mais baixo e pode agradar mais quem se sente meio desequilibrado com saltos mais altos. Porém, pra mim, é o melhor salto que já provei e sinto como se tivesse sido feito pra mim. Conclusões gerais: 10/10. Para quem precisa/gosta de salto mais alto para agachar, o melhor que já provei até hoje.


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Hoje vou escrever sobre uma faixa de punho bem conhecida no mundo do powerlifitng: Inzer Wrist Wraps Iron Z. A primeira impressão de uma faixa Inzer é que você está diante de um produto conceitual que demorou anos e foi muito testado para chegar até você. Eles se preocupam com cada detalhe e a combinação das cores é sempre um luxo a parte. O contato com a pele é resistente mas não demasiadamente agressivo. Com isso, você consegue ter “conforto” até em passadas de faixa mais rígidas e explorar vários tipos de tensões intermediárias com as séries de aquecimento e incremento de carga. O tamanho que testei foi de 1m (é o meu preferido) e essa faixa tem uma elasticidade boa para esse tamanho.
Recomendo ela para iniciantes e intermediários no Raw. Creio que, para o equipado, seria melhor uma faixa com maior constrição por causa da magnitude das cargas alcançadas. Comparando com outras, ela é mais suave e elástica que a Signature Gold da Titan e um menor poder de grip e constrição que a Inzer Gripper. Conclusões gerais: 9/10. Para quem quer uma boa faixa e que vai aprender a utilizar e tirar o melhor dela durante a sua evolução, é uma excelente escolha.

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Hoje vou escrever sobre uma faixa de punho bem conhecida no mundo do powerlifitng: Inzer Wrist Wraps Gripper.
A primeira impressão de uma faixa Inzer é que você está diante de um produto conceitual que demorou anos e foi muito testado para chegar até você. Eles se preocupam com cada detalhe e a combinação das cores é sempre um luxo a parte.
O contato com a pele é bem resistente e o gripper (de silicone) prende bem no punho e não escorrega. Com isso, você consegue literalmente privar teu punho de movimento mas também explorar vários tipos de tensões intermediárias com as séries de aquecimento e incremento de carga. O tamanho que testei foi de 1m (é o meu preferido) e essa faixa tem uma elasticidade boa para esse tamanho.
Recomendo ela para intermediários e avançados no Raw e até para alguns tipos de equipados. Comparando com outras, ela é mais suave e elástica que a Strangulator e um maior poder de grip e constrição que a Inzer Iron Z. Conclusões gerais: 10/10. Para quem quer uma boa faixa e não quer depender de outra pessoa para colocar o equipamento, é perfeita.


Gostaram? Posso fazer uma resenha de todos os materiais que já provei se for, de alguma forma, útil para vocês

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sexta-feira, 13 de outubro de 2017

O final da minha carreira de atleta... brasileiro

Por Hugo Quinteiro

“Everything that has a beginning… has an end, Neo”

Agent Smith; Matrix Revolution, 2003

Em alguns momentos ter a oportunidade de ver partes da sua vida em retrospecto é algo que causa uma mistura de sentimentos e, dentre eles, a incredulidade.
 Observe a foto acima.
 Se alguém me dissesse, naquele dia, que esse seria meu último momento competitivo representando o Brasil, eu jamais acreditaria. Estava cheio de planos para os próximos campeonatos e já pensando na recuperação da lesão que sofri quando fiz esse levantamento terra aí da foto. Foi feio,  doeu bastante, mas mesmo assim consegui conquistar o bicampeonato mundial e 65kg a mais de total (soma dos três melhores levantamentos) que no ano anterior.
Foram, ao todo, cinco campeonatos mundiais que participei e considero os resultados muito expressivos: quatro títulos e cinco recordes mundiais quebrados em apenas dois anos participando de campeonatos internacionais.
Creio que com esse desempenho representei o Brasil de maneira honrosa e digna.



O saldo final como atleta brasileiro foi positivo e me sinto, de certa forma, escrevendo uma autobiografia póstuma de uma parte minha que não vai mais existir: o atleta brasileiro Hugo Quinteiro.
Esse atleta se despede por uma série de motivos que incluem: falta de sensação de identidade e pertencimento, falta de apoio institucional, de infra-estrutura, de estabilidade econômica e de desprezo das políticas públicas brasileiras dos últimos anos. Contudo, que fique claro que meu respeito ao Brasil e ao público brasileiro permanecem íntegros e inalterados.
Agradeço a cada um dos meus alunos e amigos que me ajudaram nos inúmeros crowdfundings que fiz e até mesmo das doações voluntárias que permitiram que todas essas conquistas se tornassem possíveis. Porém, sei que cada um que me ajudou, não fez pra ajudar um país e sim uma pessoa na qual acreditaram que poderia ir tão longe em um esporte tão pouco valorizado.
Inicio agora uma nova fase como atleta português. Faço isso pela maneira acolhedora com que esse país vem me recebendo (amigos, entidades, alunos, etc) e mostrando um carinho e um apreço que até hoje não havia conhecido. Faço isso, também, por uma questão familiar: quero representar digna e honradamente o país de meu pai e avós, que me ensinaram lições de vida que moldaram profundamente minha percepção de mundo e caráter.
 Apesar da distância, que ainda vai permanecer por algum tempo, serei um atleta português em terras sul americanas representando o país em eventos pelo Brasil e mundo.
Estarei por aqui, em terras brasileiras, ministrando aulas, trabalhando e treinando com a mesma dedicação e comprometimento para que eu represente meu novo país da mesma maneira que por tantos anos representei o Brasil.




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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A relação dos meus alunos-professores e a sua atuação profissional





Hoje em dia, existem diferentes maneiras de enxergar a relação entre professor e aluno nos inúmeros segmentos de mercado em que atuam os profissionais de Educação Física. Essas relações, muitas vezes, ditam a maneira com que o professor lida com seu aluno durante todo o período que estão trabalhando juntos.

As principais classificações são:

  • Relação de profissional liberal e seus clientes:
Se estabelece entre um prestador de serviço e um cliente e já possui algumas “leis” implícitas reguladas pelo mercado.
Exemplos:
- o cliente tem sempre razão;
- o cliente possui expectativas então, o profissional deve atender essas expectativas para gerar felicidade e satisfação ao mesmo.

  • Relação de profissional da saúde e paciente:
O paciente possui alguma doença e o profissional trabalha para melhorar a condição e ajudar no tratamento, utilizando conhecimento científico e clínico, guiando o paciente para que ele obtenha melhoras em seu quadro geral.
Normalmente, esse trabalho é feito em parceria com o médico que acompanha esse paciente.
As maiores dificuldades em mensurar evolução estão na interação da atividade física com medicamentos, a adesão desse paciente a uma dieta restritiva e até a resistência em mudança do estilo de vida que ele vinha levando que, convenhamos, se fosse a correta não seria necessária uma intervenção radical multiprofissional.

  • Relação de professor e aluno:
O aluno contrata um professor para que ele venda algo intangível e de difícil precificação pois é muito difícil mensurar. Esse produto chama-se CONHECIMENTO.
Quando uma relação é criada nesses moldes, algumas “leis” se tornam implícitas. Exemplos: na relação de ensino-aprendizagem o aluno nem sempre tem razão, o professor conhece diferentes formas de abordagem pedagógica para que esse processo se torne o melhor possível e esse aluno aprenda o que precisa ser ensinado. A remuneração se dá, primariamente, pelo conhecimento e não pela “empreitada”.

Dentre todas elas, acredito que a relação professor-aluno seja a mais adequada e a que melhor representa o serviço que o profissional de Educação Física presta nos segmentos de mercado que atua.

Claro que existem componentes de profissional liberal-cliente e profissional da saúde-paciente em todas as relações porém, enxergar essa relação primariamente como professor-aluno nos permite trabalhar de maneira mais adequada com aquilo que realmente fazemos e acreditamos: devolver - reeducando - padrões fundamentais de movimentos que foram perdidos devido a uma alienação corporal, causada pela forma com que as sociedades ocidentais se organizaram pós revolução industrial.

Eu ofereço ao mercado o que acredito ser a relação mais adequada: o conhecimento. Com este cenário de atuação bem posicionado e claro, meus alunos-treinadores exercem o efeito multiplicativo, ou seja, esse conhecimento passa a ser ensinado ao seus alunos devido a sua alta aplicabilidade e grande conteúdo prático oferecido nos cursos que ministro.


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