Cada pessoa lida
de uma forma muito peculiar com a sua força. Uns a ignoram e deixam as
limitações ambientais (como cadeiras, escadas rolantes e aparelhos da vida
moderna) alienar algo que nos é inato, ou seja, todos nós nascemos sabendo
fazer força. Pagam por isso o caro preço da perda da autonomia motora quando
envelhecem e das dores crônicas que são cruelmente administradas por drogas que
causam grandes efeitos colaterais pela atual medicina que trata o sintoma e não
o problema por ser financiada por uma poderosa indústria farmacêutica.
Uma crescente
parcela das pessoas se reapropriam parcialmente dessa força. As desenvolvem em
academias convencionais e se tornam pessoas mais felizes com a pequena força
que adquiriram mesmo não conseguindo sustentar o próprio peso corporal para um
exercício de barra fixa, por exemplo. Isso as deixam satisfeitas e com uma
maior autonomia no ilusório conceito da longevidade.
Há um pequeno
grupo, porém, sempre presente na história da humanidade que, não só quer
desenvolver sua força como quer levar a limites nunca antes alcançado. Hoje se
sabe que esse grupo possui genes não mutados ligados a produção de força,
metabolismo oxidativo completamente diferente com mitocôndrias completamente
adaptadas a um metabolismo oxidativo diferenciado, tipologia de fibras
musculares capazes de realizar um grande output de força e um altíssimo índice
de fadiga além de um cérebro com frequência de disparo neural do córtex motor
completamente diferente que faz com que esses indivíduos possuam uma capacidade
de ativação muscular e a propriocepção de cada articulação do corpo no espaço
de maneira superior aos demais.
Pra esse grupo,
desenvolver sua força não é uma opção. É uma NECESSIDADE. Eles só conseguem
viver se treinarem força. Improvisam academias em suas casas para não terem as
limitações de horários e aparelhos que as academias convencionas impõe. Pra
essas pessoas, tirar sua força é tirar sua vida. É a morte. Para essas pessoas,
não importa o quão difícil ou improvável é uma carga pois o caminho para se
chegar até ela é o mais importante. O treino, o suor derramado, a sensação de
paz que cada entrada debaixo de uma barra carregada proporciona. Tudo isso é a
forma que essas pessoas dizem ao mundo: estou viva e não reconheço limites!
Todos os limites sociais e todos os limites físicos desaparecem. Só importa o
peso, o movimento e a sua existência nesse contexto.
Mas nem tudo
sempre da certo. A dor, a lesão e a dúvida são constantes na vida desse grupo
de elite da força. Uma lesão grave que impeça uma pessoa dessa de andar
permanentemente é algo pior que a morte. A dificuldade que as pessoas comuns
tem em entender uma situação como essa é simples: ela não depende da força pra
viver. Esse pequeno grupo depende. Só existe vida se existir força.
E, apesar dessa
capacidade especial, as leis universais se aplicam a todos: essas pessoas
sofrem com lesões como qualquer atleta. E essas lesões, na maior parte das
vezes momentaneamente, as impedem de ser quem elas são: fortes. Que grande
engano esse. São nesses momentos que a força dessas pessoas mostram algo de
sobrenatural. Em nenhum momento desistir é uma opção. Elas imediatamente se
levantam, colocam gelo em suas lesões e adiam da maneira incrivelmente
racional, em alguns meses, seus objetivos históricos. E, dentro de um tempo
menor que a grande maioria das pessoas precisam, se recuperam e cumprem seus
objetivos. Por que elas conseguem? Porque a mesma força que a leva tão próxima
da morte é a que dá o impulso fundamental para suas vidas. E essa força elas já
desenvolvem desde a infância e têm de sobra pra lidar com essas situações.
Porque, pra esse
pequeno grupo de pessoas, um dos poucos momentos da vida que importam, é aquele
em que só existe a barra carregada e o tablado pronto. Naquele momento, o tempo
não existe, o mundo não existe, a dor não existe, as pessoas não existem. Só
existe o movimento perfeito e a expressão máxima daquilo que as identifica: a
força e a vida.
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