sábado, 4 de outubro de 2014

A Força e a Vida




Cada pessoa lida de uma forma muito peculiar com a sua força. Uns a ignoram e deixam as limitações ambientais (como cadeiras, escadas rolantes e aparelhos da vida moderna) alienar algo que nos é inato, ou seja, todos nós nascemos sabendo fazer força. Pagam por isso o caro preço da perda da autonomia motora quando envelhecem e das dores crônicas que são cruelmente administradas por drogas que causam grandes efeitos colaterais pela atual medicina que trata o sintoma e não o problema por ser financiada por uma poderosa indústria farmacêutica.

Uma crescente parcela das pessoas se reapropriam parcialmente dessa força. As desenvolvem em academias convencionais e se tornam pessoas mais felizes com a pequena força que adquiriram mesmo não conseguindo sustentar o próprio peso corporal para um exercício de barra fixa, por exemplo. Isso as deixam satisfeitas e com uma maior autonomia no ilusório conceito da longevidade.

Há um pequeno grupo, porém, sempre presente na história da humanidade que, não só quer desenvolver sua força como quer levar a limites nunca antes alcançado. Hoje se sabe que esse grupo possui genes não mutados ligados a produção de força, metabolismo oxidativo completamente diferente com mitocôndrias completamente adaptadas a um metabolismo oxidativo diferenciado, tipologia de fibras musculares capazes de realizar um grande output de força e um altíssimo índice de fadiga além de um cérebro com frequência de disparo neural do córtex motor completamente diferente que faz com que esses indivíduos possuam uma capacidade de ativação muscular e a propriocepção de cada articulação do corpo no espaço de maneira superior aos demais.

Pra esse grupo, desenvolver sua força não é uma opção. É uma NECESSIDADE. Eles só conseguem viver se treinarem força. Improvisam academias em suas casas para não terem as limitações de horários e aparelhos que as academias convencionas impõe. Pra essas pessoas, tirar sua força é tirar sua vida. É a morte. Para essas pessoas, não importa o quão difícil ou improvável é uma carga pois o caminho para se chegar até ela é o mais importante. O treino, o suor derramado, a sensação de paz que cada entrada debaixo de uma barra carregada proporciona. Tudo isso é a forma que essas pessoas dizem ao mundo: estou viva e não reconheço limites! Todos os limites sociais e todos os limites físicos desaparecem. Só importa o peso, o movimento e a sua existência nesse contexto.

Mas nem tudo sempre da certo. A dor, a lesão e a dúvida são constantes na vida desse grupo de elite da força. Uma lesão grave que impeça uma pessoa dessa de andar permanentemente é algo pior que a morte. A dificuldade que as pessoas comuns tem em entender uma situação como essa é simples: ela não depende da força pra viver. Esse pequeno grupo depende. Só existe vida se existir força.

E, apesar dessa capacidade especial, as leis universais se aplicam a todos: essas pessoas sofrem com lesões como qualquer atleta. E essas lesões, na maior parte das vezes momentaneamente, as impedem de ser quem elas são: fortes. Que grande engano esse. São nesses momentos que a força dessas pessoas mostram algo de sobrenatural. Em nenhum momento desistir é uma opção. Elas imediatamente se levantam, colocam gelo em suas lesões e adiam da maneira incrivelmente racional, em alguns meses, seus objetivos históricos. E, dentro de um tempo menor que a grande maioria das pessoas precisam, se recuperam e cumprem seus objetivos. Por que elas conseguem? Porque a mesma força que a leva tão próxima da morte é a que dá o impulso fundamental para suas vidas. E essa força elas já desenvolvem desde a infância e têm de sobra pra lidar com essas situações.


Porque, pra esse pequeno grupo de pessoas, um dos poucos momentos da vida que importam, é aquele em que só existe a barra carregada e o tablado pronto. Naquele momento, o tempo não existe, o mundo não existe, a dor não existe, as pessoas não existem. Só existe o movimento perfeito e a expressão máxima daquilo que as identifica: a força e a vida.

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