sábado, 18 de julho de 2015

Ajude seu sacerdote da força


“(os professores) São os sacerdotes involuntários de uma igreja que não os quer”


É com a frase da prof. dra. Marília Coutinho em seu livro estética e saúde (Compre aqui) que eu inicio um texto que tem por objetivo atingir o consumidor final dessa “religião” que é o mercado de academias de musculação hoje no Brasil. Pela frase, já da pra perceber que, segundo o empresário dono de uma academia, o papel do professor em uma sala de musculação é de, simplesmente, cumprir uma exigência legal imposta pelo CREF.


Por isso, apesar de toda expansão de mercado das últimas duas décadas (e expansão infelizmente não tem nada a ver com qualidade e valorização profissional), o retorno financeiro do profissional de educação física que migrou pra área de musculação é, ainda, muito pequeno. Isso acontece por diversos fatores: falta de preparo desse profissional durante a graduação (eu mesmo tive apenas UMA aula prática de musculação nos meus quatro anos de graduação), falta de sindicatos que realmente estejam interessados em defender a categoria e não o empresariado, obrigatoriedade legal da presença de um profissional na sala o tempo inteiro (não sendo um diferencial de mercado, o mercado desvaloriza como um todo), falta de  regulamentação de um número máximo que cada professor pode atender, entre outros.


Para se ter uma idéia de valores atuais (julho de 2015), os valores de piso do sindicato no estado de São Paulo  garantem, para os professores de musculação, o incrível, incomparável, plenamente satistatório valor de (imaginem tambores rufando): R$ 7,77! (Link para  a convenção sindical) Sim, caro amigo praticante de musculação. Eu não errei ao colocar a vírgula fora de local (não é R$ 77,7). Além disso, o único benefício que garante é seguro de vida e assistencia funeral. Sem garantia sindical de plano de saúde nem sequer uma cesta básica. É menos de dez reais por hora mesmo, um seguro de vida e mais nada. Menos do que ganha um funcionário de uma rede de fast food de hambúrgueres ou menos do que ganha o gari que limpa sua rua, a diarista que vai na sua casa uma vez por semana ou o porteiro do seu prédio. Parênteses: de forma nenhuma estou querendo desmerecer essas profissões. Só estou fazendo um comparativo com profissões que não exigem ensino superior completo e não possuem conselho de profissão que os punem caso seu serviço seja feito de maneira incorreta.


Para quem esta lendo e pensando: “Ah.. mas esse piso ninguém deve pagar. As academias pagam um pouco mais”. Eu infelizmente aviso que você esta errado. Da uma olhadinha no email que uma amiga minha recebeu da rede Smart Fit:



Uma rede enorme, que emprega centenas de profissionais e que paga exatamente o piso. A situação muda muito entre as academias? Não! Os valores não variam muito. E se você pensa que academias famosas da zona sul pagam mais, estão enganados. Já é senso comum entre os professores que: academia grande é vitrine pra personal. O cara aceita pra ter a chance de ter vários alunos de personal e, com isso, ganhar mais. Mas você pensa que, por isso, a coisa melhora pro lado dele? Não muito. A academia COBRA desse professor uma coisa chamada TAXA DE USO DE SALA. Essa “taxa” chega a ser em torno de R$ 50,00 por aluno por hora em redes de academia mais badaladas. Lembrem-se da frase que inicia esse texto: o templo não quer esses sacerdotes. O empresário de academia explora o trabalho do professor de musculação de TODAS as maneiras que ele pode. Claro que existem exceções a essa regra, porém, são apenas exceções.


Dadas as explicações do atual cenário do professor de musculação no estado de São Paulo e, não diferente, no Brasil,  eu gostaria de que o leitor estivesse agora com um sentimento que muitos de nós, profissionais temos: indignação. Se você, praticante de musculação, estiver indignado com esses valores, eu gostaria de propor que nos ajude a mudar esse cenário. Sim, você consumidor tem esse poder. O consumidor é quem determina todo o mercado. Ele tem o poder de criar e destruir um nicho inteiro. Porém, não vou pedir pra você boicotar nem sequer mudar de academia. Quero que você continue frequentando a mesma academia que você está habituado e que você sabe, agora, que paga salários indignos aos profissionais que ela contrata. Quero que você vá lá agora e mude isso com um conceito muito simples e muito comum utilizado nos EUA: a gorjeta.


Nos EUA é uma prática comum dar gorjeta (também conhecido como caixinha) a diversos tipos de profissionais que não são bem remunerados em seu salário de base e dependem de gorjeta como parte importante do seu sustento. É algo levado tão a sério que eles tem até tabelas de quanto dar de gorjeta, vejam só:



Minha proposta é que, para o nosso professor de musculação, você passe a dar gorjeta a ele. A pergunta que agora está vindo na sua cabeça é mais que importante: quanto e quando? Minha sugestão, caro leitor, é que você dê gorjeta ao seu professor de musculação cada vez que você for trocar a sua ficha de treino. Isso da uma gorjeta a cada 4 a 8 semanas. É um período de tempo justo e coincide com o período de tempo que seu professor tem mais trabalho com você: ele repensa na sua evolução de treino, escolhe outros exercícios, te acompanha demonstrando e corrigindo os novos exercícios até você ter autonomia para seguir o treino que ele te passou sem maiores complicações.  Qual valor: sugiro, em valores atuais (Julho de 2015), algo entre R$ 10 e R$ 20 em cada ocasião. Claro que, assim como nos EUA, gentileza no atendimento, boa qualidade de serviço prestado, simpatia e empatia entre os envolvidos são determinantes para uma gorjeta maior, menor ou até inexistente. Então, leve isso em consideração na hora de estabelecer esse valor e utilize a mais ou a menos para que o serviço seja prestado de uma maneira que lhe agrade. Lembrem-se: como consumidores, o poder do mercado está na mão de vocês.


Com isso, vocês mudam algo que está errado. Um profissional qualificado com ensino superior não pode ganhar só isso por uma hora de trabalho. É um absurdo, concordam? Mas nós vamos mudar isso, né? O poder está com quem sempre esteve: o consumidor. Hora de usá-lo para melhorar a qualidade de um serviço e moralizar um mercado.

Usem a hashtag #gorjetadobem nas redes sociais, fotografem seu professor feliz com a gorjeta e vamos moralizar um nicho de mercado!



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