terça-feira, 28 de outubro de 2014

Empoderamento Masculino




O título pode parecer estranho: afinal, homem precisa ser empoderado? Uma reação automática de rejeição a esta expressão é até esperada. Muitas das ativistas do movimento feminista podem não ter paciência para ler o resto do texto, afastando como machista um suposto conteúdo. Existe, sim, uma parcela que nutre um ódio stalinista que torna o diálogo impossível pelo próprio fato de o autor ser homem e, para elas, destituído do direito de protagonismo sobre questões de gênero. Com esse pessoal não tem jeito e abro mão, eu também, do diálogo. Falo, no entanto, com a imensa maioria de quem reflete criticamente sobre relações de gênero.

As mulheres têm hoje à disposição, pelo menos 10 métodos contraceptivos: Camisinha (de controle compartilhado com o homem), camisinha feminina, diafragma com espermicida, DIU, pílula, pílula do dia seguinte, implante subcutâneo de hormônio, injeção mensal, laqueadura e aborto (e não sejamos hipócritas quanto à proibição deste último). E o Homem? Conta com apenas dois onde ele tem o controle da situação: camisinha (controle esse compartilhado com a mulher) e vasectomia. Me parece um pouco assimétrico isso, não?
  
Pensem na seguinte situação:

Homem, por volta dos 30 anos, casado e feliz com uma mulher, financeiramente estável e de classe média. Falta algo na vida dessa pessoa?

Segundo a sociedade tradicional patriarcal falta. Faltam filhos. De preferência, mais que um. A pressão começa a vir de todos os lados: amigos que têm filhos, parentes, pais, sogros, esposa. Todos começam a pressionar como se fosse “uma obrigação social”. Só que se esqueceram de fazer uma pergunta: Por acaso o projeto de vida desse homem inclui filhos?

A opção QUERER não existe: ele DEVE passar por isso como um homem-hetero-judaico-cristão que é. “Só se torna homem de verdade depois de ter um filho”. E isso é acompanhado por: atenção total a uma fêmea em estado gravídico por, em geral, nove meses (e só isso pode representar uma perturbação importante na vida do homem), a criação e modificação COMPLETA da sua casa para vinda de um humano em estado larval, sem ritmo cronobiológico, ou seja, vai chorar de três em três horas por, pelo menos, um mês e fará dos peitos da esposa desse cara (aqueles mesmos que ele trata com todo carinho), uma ferramenta de sucção que destruirá as noites de sono do sujeito pelo resto de sua vida (seja porque ele chora ou porque ele esgotou toda a reserva financeira do pai). O catastrofismo do texto foi proposital: é preciso ter em mente que a realidade é qualquer coisa negociada entre o idílico e o infernal.

Apesar de toda a vida futura do homem deixar de ser opção dele, ele aceita a empreitada para agradar a TODOS em seu redor, que só vão aceitar sua “escolha” se ela for: ter filhos. Mas, pensem comigo: e se o projeto de vida daquele homem não for compatível com um filho? Exemplo: ele quer morar seis meses por ano em um outro país por ter incompatibilidade genética com o calor? “Problema seu, bonitão”. Ninguém vai apoiar uma idéia “maluca” em que você tenha que abrir mão de ter uma família default (papai, mamãe e.. filhinhos). Pior ainda: e se ele não tem prazer perto de crianças, não gosta de brincar com elas, não sente a menor vontade de ser pai?

Então, esse homem de 30, feliz com seu estilo de vida casado e economicamente estável, torna-se um cara de 40 anos, com dois ou três filhos, cheio de dívidas, com um emprego que não era seu sonho mas virou sua necessidade para dar conta de seu novo estilo de vida que lhe impuseram, poucas noites bem dormidas na última década, uma renda praticamente inteira comprometida com serviços essenciais para a manutenção dessa prole e… INFELIZ PRA CARALHO! Pois é, é nessa idade que a maioria de nós, homens, entramos em colapso: comemos a secretária de 25 anos, gastamos parte do nosso orçamento em prostíbulos ou, simplesmente, saímos pra comprar um cigarro (mesmo os que não fumam) e desaparecemos por 20 anos. Sabe por que? Porque não nos deram ESCOLHA. Empurraram esse modelo de família goela abaixo e nós tivemos que aceitar, pois isso faz parte do script obrigatório do homem heterossexual padrão. Aceitamos ser a próxima geração de um modelo do qual nós vimos os erros de perto (nós já fomos filhos também e lembramos bem de todas as falhas desse sistema papai/ mamãe/filhinho). E quando esse dia chega, por volta dos 40 anos, a gente tem a mais terrível epifania: NUNCA tomamos uma decisão importante na vida. Vivemos até aquele momento aceitando todas as decisões que fizeram por nós: Homem heterossexual DEVE fazer uma faculdade, arrumar um bom emprego formal, daqueles de 50 horas semanais, registro em carteira, 13º salário, conhecer uma mulher jovem (de preferência mais jovem que ele), casar, ter filhos e dedicar a seus filhos todos os planos que ele… NÂO PODE TER. Não me parece algo muito lógico, não?

Você não pode ser um astro do rock no colégio, você não pode se dedicar ao esporte que ama, pois, afinal, “esporte e música não dão futuro”, já dizia sua avó. Você não pode esperar alguns anos depois de terminado o ensino médio pra pensar sobre o que realmente você gosta de fazer. Você não pode terminar a faculdade e sair pelo mundo pra saber se sua vida é muito pequena comparada a um mundo muito grande. Você não pode escolher não casar ou simplesmente esperar mais tempo (afinal, mulher grávida depois dos 35 é problemático). Você não pode viajar o mundo com sua mulher, pois já estava na hora dela engravidar. Ela (e toda a influencia ao redor dela) DECIDIU engravidar. Você foi só o instrumento para que isso acontecesse. Quantas mulheres eu já ouvi discutir abertamente a fase ovulatória e o marido desesperado pela pressão de ter que engravidar a mulher naquele mês.

E se você decidir não engravidar essa mulher? Amigo, se prepara: você vai ouvir de tudo. Uma das mais engraçadas é: Machista filho da puta! Seus amigos não vão te entender, sua familia não vai entender e, se sua esposa tiver realmente decidida, ela vai furar camisinha, deixar de tomar pílula e todas as sabotagens possíveis para que aconteça um “acidente”.

Mas não era o que você queria. Não estava nos seus planos. Sabe o que acontece se você diz: poxa, não queria ser pai, talvez pudéssemos pensar em tirar. O que você vai ouvir? Machista filho da puta!

O título desse texto fala sobre empoderamento. Há uma maneira (muito próximo da maneira que as mulheres defendem como muita justiça para si mesmas) de se livrar de toda essa pressão e tomar as rédeas da sua vida: VASECTOMIA. Afinal, o saco é tão seu quanto o útero é dela. A ideia de que o destino de um feto no interior do útero da mulher seja decisão exclusiva dela é algo inegociável para mim, tão inegociável como o destino dos espermatozoides do testículo de um homem serem decisão exclusiva dele.

Se não ter filhos for seu desejo, caro leitor, faça vasectomia. Ninguém deve exercer pressão sobre a maneira que você conduz a SUA vida. São seus planos (o astro do rock, o superatleta, etc). Ninguém deve interferir nessa escolha. Ela é SUA escolha. Explique isso pra sua esposa, se ela realmente gostar de você, entenderá. Ou procure mulheres que compartilhem dessa vontade de não ter uma família no molde tradicional.

Escrevo esse texto, feliz, para comemorar meu primeiro ano pós cirurgia de vasectomia. Estou feliz por minha escolha. Escolhi ser livre. Escolhi projetos de vida muito ousados onde uma família tradicional não se enquadra. Não serei onerado pelo peso de algo que não desejo (e nunca desejei). Sobre dúvidas de cirurgia: não dói, não diminui a libido (pelo contrário, tira a preocupação na hora do sexo), durou menos de 30 minutos e não fiquei internado, saí andando sozinho e fui pra casa, voltei a treinar em 48 horas, não sangrou e, mais importante, tomei uma decisão que deu o CONTROLE SOBRE A MINHA VIDA.

          Para as mães e pais de família que acham isso um absurdo, deixo umas perguntas: E se fosse seu filho? E se você soubesse que ele teria que abrir mão de grandes projetos dele pra viver uma vida medíocre e infeliz para cuidar de um filho que ele não queria? Como pais, vocês se sentiriam bem em ver um filho infeliz num projeto de vida que ele não queria? Se ainda acham um absurdo, talvez seja porque enfiaram esse projeto goela abaixo de vocês também. 
  


Estão esperando o que, amigos? Se não querem estragar seus ambiciosos projetos de vida, cuidadosamente planejados e, principalmente, DESEJADOS, o poder está com vocês.

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terça-feira, 14 de outubro de 2014

Aniversário




Hoje é uma data muito especial que mudou completamente o destino da minha vida. A exatamente um ano atrás, eu conhecia um ser especial (que alguns dizem ser inanimado mas eu duvido muito) que  mudaria a história da minha vida: a barra olímpica.

Me inscrevi no campeonato da IPL/ANF por indicação de um amigo, o  Diego Figueroa que disse: “cara, você é forte, deveria tentar. Sem expectativas, claro. Mas tente. Pode ser que você goste”. E assim eu fiz e fui lá no dia da pesagem. Me perdi no caminho e demorei algumas horas pra achar o local. Chegando lá, estavam as pessoas montando o tablado, a Marília organizando tudo e sem tempo nem pra respirar (como descobri que é comum a ela em dias pré-campeonatos) e um cara que foi me pesar que veio a se tornar um grande amigo depois, o Carlos Daniel. Ele fez minha pesagem e, nesse momento, percebi o quanto a falta de tempo nas últimas semanas e a má alimentação tinham cobrado um preço alto: eu pesei 99,7kg e caí da categoria que tinha me inscrito originalmente e que era a que eu tinha passado boa parte dos últimos anos nela: a categoria 110kg.

O CD (apelido do Carlos Daniel), me tranquilizou e disse que não haveria problemas e poderia competir na categoria até 100kg sem problemas (sim, é essa a minha história com a categoria 100kg. Mera casualidade). Aí ele me bombardeou com perguntas extremamente complicadas que eu tinha lido no livro de regras (sim, eu li o livro de regras inteiro antes de ir lá): tinha que dizer minhas primeiras pedidas ali naquele momento. Eu respondi imediatamente com total convicção:

- Não faço a mínima ideia! (Ainda lembro da cara incrédula dele me olhando. Sei lá o que ele deve ter pensado mas, com certeza, deve ter sido uma das respostas mais atípicas que ele ouviu na vida).
Ainda completei:
- Não faço a mínima ideia! Vim aqui por indicação do Diego e da Marília. Nunca sequer fiz um movimento máximo além do terra.
Ele pacientemente me respondeu:
- Brother, geralmente a primeira pedida é uma carga que a gente faz 3 movimentos em treino.
E eu:
- Beleza! Eu nunca fiz 3 movimentos em treino. (De novo, a cara dele de espanto foi sensacional).
Eu fiz minha pedida de terra: -200kg!.
E ele perguntou:
-Tem certeza, brother?? É uma carga meio alta.
Eu respondi:
- Tranquilo, essa é uma carga que eu faço de 8 a 10 movimentos em treino.

Pausa no diálogo pra descrever a expressão dele: os olhos quase saltaram da cara. E eu com uma cara sem fazer a mínima ideia do quanto isso era alto. Afinal, eu não via outras pessoas treinando terra em academia e todos os vídeos que via de caras fazendo no youtube eram na casa dos 300kg. Ai ele disse:
- Bom, se é assim, beleza. E o supino?
Como não tinha muita ideia, concordamos em 110 kg. Era uma carga que eu fazia lá meus 6 movimentos no total estilo de treino bobybuilder.
E chegamos a um impasse: Qual seria o valor do agachamento? Não chegamos a uma conclusão e chamamos a Marília. Ela, da maneira mais objetiva e direta, disse:
- Se o cara faz 200kg de terra, consegue agachar com 150kg! Mas a gente ajuda no aquecimento e, se for muito peso, você diminui até 5 minutos antes de começar o round.

A assim foi decidida as minhas primeiras pedidas pro primeiro campeonato de powerlifting da minha vida. Fui pra casa comer e descansar para o dia seguinte (mal sabia eu que essa era a última vez que eu tinha essa folga toda num campeonato no Brasil.. haha).

No dia seguinte, acordei e fui ao campeonato. Peguei um transito terrível na estrada e, novamente, cheguei achando que tinha me atrasado e não daria mais tempo de nada. Mas deu tudo mais ou menos certo e ainda tive que esperar algumas horas pra competir. Coloquei o macaquinho, pus o meião, o tênis, peguei a faixa de punho e o clássico cinto com meu nome escrito e fui pra área de aquecimento.

Entrei na área de aquecimento e aconteceu uma coisa incrível: eu vi, pela primeira vez na vida, uma barra olímpica! Deus, aquilo era a coisa mais linda que o ser humano já inventou! Eu só conseguia olhar pra ela. Colocava nas costas, agachava e me sentia numa nova vida com aquela maravilhosa e espetacular barra. Cara! Ela tinha recartilho!! Era grande! Tinha um diâmetro perfeito pra minha pegada! Resumindo: fomos feitos um pro outro e fomos separados por 30 anos. Aquele encontro foi épico.

Terminei o aquecimento, fiz até 140 kg com uma boa profundidade. E esperei me chamarem pro tablado. Quando disseram: barra pronta Hugo, eu fui até a barra, olhei, fiz a pegada, saque ela, andei pra trás, aguardei o comando AGACHE, agachei, subi e aguardei o comando GUARDE. E assim, a história de uma vida mudou.

Saindo do tablado, recebo os cumprimentos da Marília que disse: E ai?? Gostou? Foi tranquilo? Meu sorriso vinha da alma e não dava nem pra esconder a alegria. Disse a ela que foi tranquilo e muito divertido. Ela disse: aumente mais 15 a 20kg na próxima pedida.  Fui lá e pedi 170kg. Mesmo procedimento na segunda pedida e também foi um sucesso.

Olhei os outros competidores e pensei: tenho que tentar ganhar. Terceira pedida: 200kg! Saquei a barra e mal consegui andar pra trás direito. Comecei a descer e tentei subir, mas meu corpo não saiu do lugar. Fui ajudado e, até aquele momento, dividia o segundo lugar com o Felipe Ferrari com 170kg de agachamento.

Vamos ao supino. Aqueci e fiz até 100kg no aquecimento. Bem pausado e com calma. Pensei em subir mais 10kg mas vi que eu tinha a saída mais alta entre os outros atletas. Resolvi deixar em 110 mesmo. Esperei ser chamado ao tablado, fui la, deitei no banco, fiz o arco que tinha aprendido vendo os vídeos da equipe MAD powerlifitng pelo youtube, me passaram a barra, esperei o comando, desci, esperei o comando, subi e esperei o comando guarda. Foi legal, porem achei bem leve.

Segunda pedida: 125kg. Fui lá e fiz da mesma forma. Ainda achando leve. Resolvei subir pra 140 kg. Depois que subi, o André Giongo olhou pra mim e disse: - Cara, põe peso nesse supino que ta fácil demais pra você. Eu disse: subi pra 140kg agora. Acho que ta bom, né? Ele concordou. Fiz os 140kg e fiz a quarta pedida de um número impensado pra mim: 150kg. Foi meio difícil mas consegui fazer. Terminei o supino e estava em primeiro lugar. Eu, o mesmo cara que foi apresentado a uma barra olímpica há 2 horas.

Vamos ao terra. Cheguei a pegar na barra que ia ser usada no campeonato pro terra pois tinha uma dúvida: minha pegada abria em barras comuns com peso a partir de 200kg. Quando segurei a barra, dei risada. Ela tinha o maior grip do planeta. Ia aguentar o peso que fosse. Aqueci até 180kg tranquilamente, afinal não tinha muito peso ali pra mim ainda. Fiz 200 quilos quase que saltando do chão. Estava tudo muito leve. Subi pra 220kg. Fiz e cometi um erro técnico de não travar os joelhos. A carga era tão leve que eu inclinei demais o tronco pra trás e o joelho não finalizou. Nesse momento, tinha perdido a liderança pois o Eliseu tinha feito 240kg e eu só tinha 200kg válidos até aquele momento. Eu tinha pedido 240 kg também mas foi a hora que eu senti algo diferente: havia algo em mim que dizia: faça 250kg. Foi uma carga que tinha feito uma vez só antes disso na academia com strap por causa da barra convencional.

Mudei a pedida para 250kg. Fui pra barra e ouvi o trovão da chuva que caia la fora. Olhei pra barra, ela me olhou de volta. O grito apareceu na minha garganta como se fosse algo do fundo da alma. Gritei enquanto caminhava. Tudo ficou quieto.  O tempo deixou de existir. O mundo deixou de existir. Só existia eu, a barra e o movimento. Eu tinha transcendido. No primeiro campeonato. E foi a melhor sensação que já tinha experimentado. Três brancas,  um título brasileiro e o recorde de supino e terra. A sensação era de pertencer aquilo. Eu nasci pra fazer isso, pensei. Tentei ainda uma quarta pedida de terra com 282,5kg mas, infelizmente, a pegada abriu e não consegui finalizar adequadamente o movimento.

Ai veio a premiação, a confraternização e tudo mais. Mas duas frases trocadas com a Marília merecem ser contadas ainda:

Ao final do campeonato enquanto rolava a apuração (a planilha sempre da algum problema e demora). Estava sentado perto da Marília e começamos a conversar. Ela perguntou sobre o que tinha achado e eu, na hora respondi:

- Uma sensação estranha, Marília. É como se eu fosse um estrangeiro que tivesse voltado pra casa.

Ela perdeu a cor e me olhou no fundo dos olhos visivelmente abalada. Achei que tivesse dito algo errado e quase me desculpei antes dela conseguir dizer algo. Depois ela me contou que essa foi exatamente a sensação que ela mesmo tinha tido com o powerlifting. E ela descreveu isso com as mesmas palavras que eu tinha usado. Acho que, se existir destino, ele deu uma bela prova de existência naquele momento.

Outra frase foi a que ela me disse quando me abaixei pra receber a medalha:

- Pra alguns isso é apena uma diversão. Pra outros é uma forma de vida. Não importa o tempo que tenha demorado, o importante é que você chegou em casa agora. Seja bem vindo de volta e parabéns.

E hoje eu comemoro um ano no meu lar. Um lar que da trabalho pra manter e deixar limpo, me custa muitas horas de dedicação, custa caríssimo afetivamente pois não deixa espaço pra quase mais nada e conta com a incompreensão de grande parte das pessoas. É um caminho extremamente solitário, dolorido e lesivo. Mas vale a pena. Me deixa sob controle das desordens neurológicas que possuo. É um caminho de loucos. Mad with pride!



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sábado, 4 de outubro de 2014

A Força e a Vida




Cada pessoa lida de uma forma muito peculiar com a sua força. Uns a ignoram e deixam as limitações ambientais (como cadeiras, escadas rolantes e aparelhos da vida moderna) alienar algo que nos é inato, ou seja, todos nós nascemos sabendo fazer força. Pagam por isso o caro preço da perda da autonomia motora quando envelhecem e das dores crônicas que são cruelmente administradas por drogas que causam grandes efeitos colaterais pela atual medicina que trata o sintoma e não o problema por ser financiada por uma poderosa indústria farmacêutica.

Uma crescente parcela das pessoas se reapropriam parcialmente dessa força. As desenvolvem em academias convencionais e se tornam pessoas mais felizes com a pequena força que adquiriram mesmo não conseguindo sustentar o próprio peso corporal para um exercício de barra fixa, por exemplo. Isso as deixam satisfeitas e com uma maior autonomia no ilusório conceito da longevidade.

Há um pequeno grupo, porém, sempre presente na história da humanidade que, não só quer desenvolver sua força como quer levar a limites nunca antes alcançado. Hoje se sabe que esse grupo possui genes não mutados ligados a produção de força, metabolismo oxidativo completamente diferente com mitocôndrias completamente adaptadas a um metabolismo oxidativo diferenciado, tipologia de fibras musculares capazes de realizar um grande output de força e um altíssimo índice de fadiga além de um cérebro com frequência de disparo neural do córtex motor completamente diferente que faz com que esses indivíduos possuam uma capacidade de ativação muscular e a propriocepção de cada articulação do corpo no espaço de maneira superior aos demais.

Pra esse grupo, desenvolver sua força não é uma opção. É uma NECESSIDADE. Eles só conseguem viver se treinarem força. Improvisam academias em suas casas para não terem as limitações de horários e aparelhos que as academias convencionas impõe. Pra essas pessoas, tirar sua força é tirar sua vida. É a morte. Para essas pessoas, não importa o quão difícil ou improvável é uma carga pois o caminho para se chegar até ela é o mais importante. O treino, o suor derramado, a sensação de paz que cada entrada debaixo de uma barra carregada proporciona. Tudo isso é a forma que essas pessoas dizem ao mundo: estou viva e não reconheço limites! Todos os limites sociais e todos os limites físicos desaparecem. Só importa o peso, o movimento e a sua existência nesse contexto.

Mas nem tudo sempre da certo. A dor, a lesão e a dúvida são constantes na vida desse grupo de elite da força. Uma lesão grave que impeça uma pessoa dessa de andar permanentemente é algo pior que a morte. A dificuldade que as pessoas comuns tem em entender uma situação como essa é simples: ela não depende da força pra viver. Esse pequeno grupo depende. Só existe vida se existir força.

E, apesar dessa capacidade especial, as leis universais se aplicam a todos: essas pessoas sofrem com lesões como qualquer atleta. E essas lesões, na maior parte das vezes momentaneamente, as impedem de ser quem elas são: fortes. Que grande engano esse. São nesses momentos que a força dessas pessoas mostram algo de sobrenatural. Em nenhum momento desistir é uma opção. Elas imediatamente se levantam, colocam gelo em suas lesões e adiam da maneira incrivelmente racional, em alguns meses, seus objetivos históricos. E, dentro de um tempo menor que a grande maioria das pessoas precisam, se recuperam e cumprem seus objetivos. Por que elas conseguem? Porque a mesma força que a leva tão próxima da morte é a que dá o impulso fundamental para suas vidas. E essa força elas já desenvolvem desde a infância e têm de sobra pra lidar com essas situações.


Porque, pra esse pequeno grupo de pessoas, um dos poucos momentos da vida que importam, é aquele em que só existe a barra carregada e o tablado pronto. Naquele momento, o tempo não existe, o mundo não existe, a dor não existe, as pessoas não existem. Só existe o movimento perfeito e a expressão máxima daquilo que as identifica: a força e a vida.

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