O título pode parecer estranho: afinal, homem precisa
ser empoderado? Uma reação automática de rejeição a esta expressão é até
esperada. Muitas das ativistas do movimento feminista podem não ter paciência
para ler o resto do texto, afastando como machista um suposto conteúdo. Existe,
sim, uma parcela que nutre um ódio stalinista que torna o diálogo impossível
pelo próprio fato de o autor ser homem e, para elas, destituído do direito de
protagonismo sobre questões de gênero. Com esse pessoal não tem jeito e abro
mão, eu também, do diálogo. Falo, no entanto, com a imensa maioria de quem
reflete criticamente sobre relações de gênero.
As mulheres têm hoje à disposição, pelo menos 10
métodos contraceptivos: Camisinha (de controle compartilhado com o homem), camisinha
feminina, diafragma com espermicida, DIU, pílula, pílula do dia seguinte,
implante subcutâneo de hormônio, injeção mensal, laqueadura e aborto (e não
sejamos hipócritas quanto à proibição deste último). E o Homem? Conta com
apenas dois onde ele tem o controle da situação: camisinha (controle esse
compartilhado com a mulher) e vasectomia. Me parece um pouco assimétrico isso,
não?
Pensem na seguinte situação:
Homem, por volta dos 30 anos, casado e feliz com uma
mulher, financeiramente estável e de classe média. Falta algo na vida dessa
pessoa?
Segundo a sociedade tradicional patriarcal falta.
Faltam filhos. De preferência, mais que um. A pressão começa a vir de todos os
lados: amigos que têm filhos, parentes, pais, sogros, esposa. Todos começam a
pressionar como se fosse “uma obrigação social”. Só que se esqueceram de fazer
uma pergunta: Por acaso o projeto de vida desse homem inclui filhos?
A opção QUERER não existe: ele DEVE passar por isso
como um homem-hetero-judaico-cristão que é. “Só se torna homem de verdade
depois de ter um filho”. E isso é acompanhado por: atenção total a uma fêmea em
estado gravídico por, em geral, nove meses (e só isso pode representar uma
perturbação importante na vida do homem), a criação e modificação COMPLETA da
sua casa para vinda de um humano em estado larval, sem ritmo cronobiológico, ou
seja, vai chorar de três em três horas por, pelo menos, um mês e fará dos
peitos da esposa desse cara (aqueles mesmos que ele trata com todo carinho),
uma ferramenta de sucção que destruirá as noites de sono do sujeito pelo resto
de sua vida (seja porque ele chora ou porque ele esgotou toda a reserva
financeira do pai). O catastrofismo do texto foi proposital: é preciso ter em
mente que a realidade é qualquer coisa negociada entre o idílico e o infernal.
Apesar de toda a vida futura do homem deixar de ser opção
dele, ele aceita a empreitada para agradar a TODOS em seu redor, que só vão
aceitar sua “escolha” se ela for: ter filhos. Mas, pensem comigo: e se o
projeto de vida daquele homem não for compatível com um filho? Exemplo: ele
quer morar seis meses por ano em um outro país por ter incompatibilidade
genética com o calor? “Problema seu, bonitão”. Ninguém vai apoiar uma idéia
“maluca” em que você tenha que abrir mão de ter uma família default (papai,
mamãe e.. filhinhos). Pior ainda: e se ele não tem prazer perto de crianças,
não gosta de brincar com elas, não sente a menor vontade de ser pai?
Então, esse homem de 30, feliz com seu estilo de vida
casado e economicamente estável, torna-se um cara de 40 anos, com dois ou três filhos,
cheio de dívidas, com um emprego que não era seu sonho mas virou sua necessidade
para dar conta de seu novo estilo de vida que lhe impuseram, poucas noites bem
dormidas na última década, uma renda praticamente inteira comprometida com
serviços essenciais para a manutenção dessa prole e… INFELIZ PRA CARALHO! Pois
é, é nessa idade que a maioria de nós, homens, entramos em colapso: comemos a
secretária de 25 anos, gastamos parte do nosso orçamento em prostíbulos ou,
simplesmente, saímos pra comprar um cigarro (mesmo os que não fumam) e
desaparecemos por 20 anos. Sabe por que? Porque não nos deram ESCOLHA.
Empurraram esse modelo de família goela abaixo e nós tivemos que aceitar, pois
isso faz parte do script obrigatório do homem heterossexual padrão. Aceitamos
ser a próxima geração de um modelo do qual nós vimos os erros de perto (nós já
fomos filhos também e lembramos bem de todas as falhas desse sistema papai/
mamãe/filhinho). E quando esse dia chega, por volta dos 40 anos, a gente tem a
mais terrível epifania: NUNCA tomamos uma decisão importante na vida. Vivemos
até aquele momento aceitando todas as decisões que fizeram por nós: Homem
heterossexual DEVE fazer uma faculdade, arrumar um bom emprego formal, daqueles
de 50 horas semanais, registro em carteira, 13º salário, conhecer uma mulher
jovem (de preferência mais jovem que ele), casar, ter filhos e dedicar a seus
filhos todos os planos que ele… NÂO PODE TER. Não me parece algo muito lógico,
não?
Você não pode ser um astro do rock no colégio, você
não pode se dedicar ao esporte que ama, pois, afinal, “esporte e música não dão
futuro”, já dizia sua avó. Você não pode esperar alguns anos depois de
terminado o ensino médio pra pensar sobre o que realmente você gosta de fazer.
Você não pode terminar a faculdade e sair pelo mundo pra saber se sua vida é
muito pequena comparada a um mundo muito grande. Você não pode escolher não
casar ou simplesmente esperar mais tempo (afinal, mulher grávida depois dos 35
é problemático). Você não pode viajar o mundo com sua mulher, pois já estava na
hora dela engravidar. Ela (e toda a influencia ao redor dela) DECIDIU
engravidar. Você foi só o instrumento para que isso acontecesse. Quantas
mulheres eu já ouvi discutir abertamente a fase ovulatória e o marido
desesperado pela pressão de ter que engravidar a mulher naquele mês.
E se você decidir não engravidar essa mulher? Amigo,
se prepara: você vai ouvir de tudo. Uma das mais engraçadas é: Machista filho
da puta! Seus amigos não vão te entender, sua familia não vai entender e, se
sua esposa tiver realmente decidida, ela vai furar camisinha, deixar de tomar
pílula e todas as sabotagens possíveis para que aconteça um “acidente”.
Mas não era o que você queria. Não estava nos seus
planos. Sabe o que acontece se você diz: poxa, não queria ser pai, talvez
pudéssemos pensar em tirar. O que você vai ouvir? Machista filho da puta!
O título desse texto fala sobre empoderamento. Há uma
maneira (muito próximo da maneira que as mulheres defendem como muita justiça
para si mesmas) de se livrar de toda essa pressão e tomar as rédeas da sua
vida: VASECTOMIA. Afinal, o saco é tão seu quanto o útero é dela. A ideia de
que o destino de um feto no interior do útero da mulher seja decisão exclusiva
dela é algo inegociável para mim, tão inegociável como o destino dos
espermatozoides do testículo de um homem serem decisão exclusiva dele.
Se não ter filhos for seu desejo, caro leitor, faça
vasectomia. Ninguém deve exercer pressão sobre a maneira que você conduz a SUA
vida. São seus planos (o astro do rock, o superatleta, etc). Ninguém deve
interferir nessa escolha. Ela é SUA escolha. Explique isso pra sua esposa, se
ela realmente gostar de você, entenderá. Ou procure mulheres que compartilhem
dessa vontade de não ter uma família no molde tradicional.
Escrevo esse texto, feliz, para comemorar meu primeiro
ano pós cirurgia de vasectomia. Estou feliz por minha escolha. Escolhi ser
livre. Escolhi projetos de vida muito ousados onde uma família tradicional não
se enquadra. Não serei onerado pelo peso de algo que não desejo (e nunca
desejei). Sobre dúvidas de cirurgia: não dói, não diminui a libido (pelo
contrário, tira a preocupação na hora do sexo), durou menos de 30 minutos e não
fiquei internado, saí andando sozinho e fui pra casa, voltei a treinar em
48 horas, não sangrou e, mais importante, tomei uma decisão que deu o CONTROLE SOBRE
A MINHA VIDA.
Para as mães e pais de família que acham
isso um absurdo, deixo umas perguntas: E se fosse seu filho? E se você soubesse
que ele teria que abrir mão de grandes projetos dele pra viver uma vida
medíocre e infeliz para cuidar de um filho que ele não queria? Como pais, vocês
se sentiriam bem em ver um filho infeliz num projeto de vida que ele não queria?
Se ainda acham um absurdo, talvez seja porque enfiaram esse projeto goela
abaixo de vocês também.
Estão esperando o que, amigos? Se não querem estragar
seus ambiciosos projetos de vida, cuidadosamente planejados e, principalmente,
DESEJADOS, o poder está com vocês.